Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema ao Senhor e evite o mal. Isso lhe dará saúde ao corpo e vigor aos ossos. Provérbios 3:7-8
Tiago vivia em um mundo de dados, métricas e otimização. Aos vinte e seis anos, ele era o CEO de uma startup de sucesso que criava aplicativos de produtividade. Seu lema, estampado em camisetas e canecas no escritório, era “Se não pode ser medido, não pode ser melhorado”. Ele era, aos seus próprios olhos, a personificação da sabedoria moderna.
Ele aplicava essa lógica a tudo. Sua dieta era calculada para o máximo de performance. Sua rotina de sono era monitorada por sensores. Seus relacionamentos eram avaliados com base em “trocas de valor” e “sinergia de objetivos”. Ele havia, inclusive, criado um algoritmo pessoal para tomar decisões, ponderando prós e contras com uma precisão matemática. Para ele, o mal não era uma categoria moral; era simplesmente “ineficiência”. E o temor a Deus era uma variável irracional que ele havia eliminado de sua equação de vida há muito tempo.
Seu corpo, no entanto, começou a enviar sinais de que algo estava fundamentalmente errado. Ele sofria de enxaquecas crônicas, uma tensão constante nos ombros e uma insônia que nenhum aplicativo de meditação conseguia curar. Sentia um cansaço profundo, uma fadiga que não era física, mas que parecia vir dos seus ossos.
Seu médico, Dr. Elias, um homem mais velho e perspicaz, foi direto após uma bateria de exames.
“Tiago, seus exames estão perfeitos. Fisicamente, você é uma máquina. Mas você está doente. Sua doença se chama arrogância.”
Tiago riu, desconfortável.
“Isso não é um diagnóstico médico, doutor.”
“Talvez seja o mais preciso que você já recebeu”, respondeu o médico. “Você trata sua vida como um código a ser depurado. Mas a vida não é um código. E seu corpo está pagando o preço pelo estresse de tentar controlar tudo. Você se considera sábio demais, e essa soberba está te consumindo por dentro.”
Tiago dispensou o conselho como um disparate. Mas a semente da dúvida foi plantada.
O ponto de ruptura veio através de seu avô, Seu Ramiro, um marceneiro aposentado que Tiago visitava por um misto de obrigação e afeto. Numa tarde de sábado, ele encontrou o avô na oficina dos fundos, lixando um pedaço de madeira com uma paciência infinita. O ar cheirava a cedro e paz.
“Estou exausto, vô”, desabafou Tiago, algo que ele nunca admitiria para sua equipe. “Sinto como se meus ossos estivessem cansados.”
Seu Ramiro parou de lixar. Limpou o suor da testa com as costas da mão e olhou para o neto.
“Cansaço de osso é cansaço de alma, meu filho. Acontece quando a gente tenta carregar o mundo nas costas. O mundo é pesado demais.”
“Mas eu tenho que carregar”, insistiu Tiago. “Se eu não fizer, tudo desmorona.”
“Aí é que você se engana”, disse o avô, com um sorriso gentil. “Sabe qual é a madeira mais forte? Não é a mais rígida. É a que sabe se dobrar com o vento, a que respeita uma força maior que a dela. Você é inteligente, Tiago. Mas não confunda inteligência com sabedoria. Ser sábio aos seus próprios olhos é a árvore mais fácil de quebrar.”
Ele pegou sua velha Bíblia da bancada.
“Seu problema não é falta de descanso. É falta de temor. Não o medo que paralisa, mas o respeito que nos coloca no nosso devido lugar. Quando você teme ao Senhor, você entende que não precisa ter todas as respostas. Você se afasta do mal de querer ser Deus na sua própria vida. E sabe o que acontece? Seu corpo relaxa. Seus ossos encontram refrigério.”
As palavras do avô, tão simples e analógicas, penetraram na armadura de dados de Tiago de uma forma que nenhum diagnóstico médico conseguiu. Ele olhou para suas próprias mãos, sempre digitando, controlando, otimizando. E olhou para as mãos do avô, calejadas, mas serenas.
Naquela semana, Tiago fez algo radicalmente ineficiente. Ele tirou uma tarde de folga. Não para uma “recarga estratégica”, mas apenas para caminhar sem rumo em um parque. Ele desligou as notificações do celular. Ele se sentou em um banco e observou as árvores, as crianças, as nuvens.
Ele tentou orar. Foi desajeitado. Ele não pediu nada. Apenas reconheceu, pela primeira vez, que não era o centro do universo. Que havia uma sabedoria muito maior que a sua, um Designer por trás de todo o sistema. Foi um ato de humildade, um “evitar o mal” de sua própria arrogância.
A enxaqueca não desapareceu da noite para o dia. Mas, ao final daquela tarde, ele sentiu algo que não sentia há anos. Uma leveza nos ombros. Um silêncio em sua mente. Um refrigério sutil, mas real, que parecia alcançar seus ossos. Ele estava apenas começando a aprender que a verdadeira saúde não vinha de um algoritmo, mas de uma rendição.
(Feito com IA)
Este conto é parte do meu livro Sabedoria Diária
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