quarta-feira, 27 de agosto de 2025

A Câmera de Eco

A sabedoria o livrará do caminho dos maus, dos homens de palavras perversas … gente que anda por veredas tortuosas, e no caminho se extraviam. Provérbios 2:12, 15

O primeiro vídeo de Lucas que viralizou foi um acidente. Ele fez uma análise sincera e bem-humorada sobre um filme de super-herói, e acordou com cinquenta mil novas visualizações. A dopamina do reconhecimento foi instantânea e viciante. Em pouco tempo, seu canal, “Papo Reto”, se tornou sua principal ocupação. Ele era um jovem que amava a cultura pop, mas também valorizava a bondade, a esperança e um debate honesto.

Seu caminho começou a mudar no dia em que foi convidado para uma colaboração no podcast “Desconstrói”, apresentado por Kael, um influenciador famoso por seu humor ácido e seu desprezo por tudo o que era considerado “tradicional”. Kael era o rei da polêmica, um mestre em dizer coisas perversas com um sorriso charmoso.

“Lucas, meu caro, você é talentoso. Mas você é… bonzinho demais”, disse Kael, nos bastidores. “Ninguém quer ver honestidade. Isso não vende. As pessoas querem ver o circo pegar fogo. Querem que você destrua, ridicularize. É aí que está o engajamento.”

Kael e seu círculo eram a personificação do provérbio. Eles haviam deixado os caminhos da honestidade intelectual para andar pelos pelas trevas do cinismo. Para eles, não havia verdade, apenas narrativas. Não havia beleza, apenas algo a ser ridicularizado. Seus caminhos eram torcidos, e eles se alegravam em praticar o mal, encontrando prazer na perversidade de suas palavras.

Seduzido pela promessa de mais seguidores e contratos publicitários, Lucas começou a mudar. Aos poucos, o “Papo Reto” se tornou “Papo Torto”. Ele começou a fazer vídeos atacando outros criadores, usando a ironia como arma. Passou a ridicularizar filmes que promoviam valores que ele antes defendia, chamando-os de “ingênuos” e “problemáticos”. Ele se tornou um eco de Kael.

O crescimento foi exponencial. Os números subiam, os contratos apareciam. Ele se mudou para um apartamento de luxo, começou a frequentar festas exclusivas, tornou-se parte do círculo íntimo de Kael. Mas, longe das câmeras, algo estava morrendo dentro dele.

As conversas com sua família se tornaram campos minados. ]

“Filho, aquele vídeo foi cruel”, disse sua mãe após ele ter “desconstruído” o trabalho de uma jovem artista. “Não foi isso que te ensinamos.”

“Mãe, você não entende. É o jogo”, ele respondia, impaciente.

Sua namorada, Ana, que o amava por sua gentileza original, começou a se afastar.

“Não te reconheço mais, Lucas. Você fica feliz ao ser maldoso. Parece que você encontrou alegria em… ser do contra.”

A frase de Ana o assombrou. Ele estava, de fato, se tornando aquilo. Ele e Kael passavam horas rindo de suas próprias “tiradas” venenosas, celebrando os “cancelamentos” que provocavam. Ele estava em um caminho sombrio, mas o brilho dos holofotes o impedia de ver a escuridão.

O ponto de virada veio de forma inesperada. A jovem artista que ele havia ridicularizado postou um vídeo em resposta. Ela não o atacou. Com os olhos marejados, ela simplesmente explicou o quanto seu trabalho significava para ela, como ele era uma homenagem à sua avó falecida, e como a onda de ódio que o vídeo de Lucas gerou a havia levado a uma profunda depressão.

Assistindo àquele vídeo, sozinho em seu apartamento caro e vazio, Lucas sentiu o peso de suas palavras perversas. Ele viu o dano real por trás dos números de engajamento. Aquele não era um “jogo”. Aquilo era a vida de alguém.

Ele olhou ao redor. A vida que ele construiu nos últimos meses parecia uma farsa. Era um palco montado sobre a dor e a humilhação dos outros. Ele lembrou-se de quem era antes de conhecer Kael: um jovem que encontrava alegria em compartilhar o que amava, não em destruir o que os outros amavam.

Naquela noite, ele fez algo que não fazia há muito tempo. Ele orou. Não pediu mais sucesso ou seguidores. Pediu livramento. Livramento de si mesmo, do homem em que havia se tornado.

No dia seguinte, ele postou um novo vídeo. Sem cortes, sem piadas, sem ironia. Apenas ele, olhando para a câmera, com o rosto abatido.

“Eu errei”, disse ele. “Eu me perdi no caminho. Deixei a busca por relevância me levar para um lugar escuro e cruel. Eu quero pedir perdão.”

Ele perdeu milhares de seguidores naquela hora. Kael e seu círculo o ridicularizaram publicamente, chamando-o de fraco e hipócrita. Mas, pela primeira vez em meses, Lucas sentiu que estava voltando para a luz, para o caminho correto. A estrada de volta era solitária e difícil, mas ele sabia, com uma certeza que não sentia há muito, que era o único caminho que valia a pena trilhar.

(Feito com IA) 

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